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Saúde Mental e Ocupacional | Ana Luísa Duarte

 

Luto

O luto é uma resposta natural à perda de uma pessoa próxima, mas pode também surgir como resposta ao fim de uma relação, emprego ou perda de um animal de estimação. Ao longo do tempo vários autores se têm dedicado ao estudo do tema, nomeadamente Freud, que em 1957 referia que o luto envolve a quebra de ligações com a pessoa falecida, o reajustamento a novas circunstâncias de vida e o estabelecimento de novas relações. Também Kübler-Ross em 1969 desenvolveu uma teoria segundo a qual o luto é um processo com várias fases: choque e negação, irritabilidade, culpa, depressão e finalmente aceitação. Por fim, Neimeyer and Sands em 2011 sugeriram que a construção de um significado para a vida é a principal tarefa do luto.

A pessoa em luto pode experimentar tristeza, choro fácil, insónia e sintomas físicos como por exemplo dor de cabeça, tontura e fadiga. Nas fases iniciais podem surgir inclusivamente emoções positivas ao relembrar o passado. Alguns estudos demostram aumento do risco de problemas cardiovasculares e mortalidade devido ao stress elevado que esta situação acarreta.

A intensidade do processo de luto é influenciada por inúmeros fatores como a circunstância em que ocorreu a morte do ente querido e a vulnerabilidade da pessoa em luto, sendo mais susceptíveis as pessoas com baixa autoestima, isoladas ou com doença mental anterior ao acontecimento.

O período de recuperação é variável, mas a maioria das pessoas recupera dentro 1 ano e sem necessidade de qualquer tratamento.

No entanto o luto pode levar ao aparecimento de algumas perturbações mentais como as perturbações de ansiedade e depressão, que podem necessitar de tratamento psicológico ou farmacológico.

Em cerca de 10% dos casos pode desenvolver-se uma situação designada por luto persistente complexo, na qual os sintomas se prolongam para além dos 6 a 12 meses considerados aceitáveis, causando impacto nas atividades diárias da pessoa. Esta perturbação caracteriza-se por uma saudade persistente, dor emocional excessiva, preocupação com as circunstâncias da morte e com o falecido. Pode surgir marcada dificuldade em aceitar a morte, descrença em relação ao sucedido, culpabilização excessiva de si ou de outros e evitamento de espaços ou atividades que façam lembrar a pessoa. A identidade também pode estar afectada, o que se manifesta por sintomas como: sensação de ter perdido parte de si próprio, dificuldade em continuar com a vida, dificuldade em confiar nos outros e desejo de morrer para estar com a pessoa falecida. O principal tratamento nesta situação é a psicoterapia.

O que diferencia o luto persistente complexo da depressão é que no primeiro caso os sentimentos e as emoções negativas giram em torno da pessoa falecida, enquanto na depressão os sentimentos negativos são mais generalizados e menos relacionados com a perda em si.

O envolvimento em atividades sociais, a manutenção das relações familiares e o retorno às atividades habituais são formas saudáveis de enfrentar o problema.

No seu Centro de Saúde existem profissionais capazes de ajudar em situações de fim de vida e no suporte dos familiares durante o luto. Peça ajuda se sente que não está a ser capaz de lidar com o sofrimento.

 

Ana Luísa Duarte
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar

 

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